Folha de São Paulo, 22 de julho de 2007Economia solidária move mais de R$ 6 bi
[Mapeamento registra cerca de 19 mil iniciativas como associações e cooperativas, que surgem como resposta ao desemprego
No entanto, quase metade dos empreendimentos declara que o faturamento ainda é insuficiente para pagar todas as despesas]
JULIANNA SOFIA
Resposta dos trabalhadores à crise do desemprego das últimas décadas, a economia solidária é um setor que avança em silêncio e começa a esboçar números vultosos. Dados oficiais mostram que foram mapeados no país até agora 18.878 empreendimentos, que respondem por 1,574 milhão de postos de trabalho. O faturamento, segundo as informações mais recentes, ultrapassa a casa de R$ 6 bilhões por ano.
O raio-X do setor está sendo elaborado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, que pretende fechar o ano com o registro de 21 mil negócios.
"Quem trabalha junto, de uma forma igualitária, são sócios. E compartilhar os resultados democraticamente faz parte da economia solidária", resume o secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer, explicando o que é um empreendimento solidário. Ele ressalta que os próprios empreendimentos muitas vezes desconhecem a sua natureza solidária.
Entre as várias formas de organização dos empreendimentos solidários, estão associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas, redes e centrais. Segundo o mapeamento da secretaria, hoje quase 60% dos negócios têm relação com movimentos sociais e populares, principalmente entidades comunitárias ou sindicais.
Os números já coletados apontam a expansão do setor com maior força no Nordeste -região que concentra 8.720 iniciativas.
Em todo o país, grande parte dos negócios (11.243) começou com recursos próprios dos trabalhadores, e uma boa parcela (7.800) contou com a ajuda de órgãos governamentais para a sua estruturação.
Nos últimos 12 meses, os investimentos na economia solidária somaram R$ 246,7 milhões. De acordo com as informações da secretaria, quase metade dos empreendimentos opera com sede e equipamentos próprios, predominando os negócios no setor rural.
Grande parte dos trabalhadores da economia solidária dedicam-se à agricultura.
O milho é o principal produto cultivado, seguido do feijão e do arroz. Na lista das 50 principais atividades da economia solidária, também aparecem empreendimentos relacionados à reciclagem de sucata, confecções de roupas, intermediação financeira e transporte de passageiros.
Remuneração
Apesar de mais de 60% dos projetos comercializarem sua produção, muitos ainda recorrem ao sistema de troca ou destinam seus produtos ao consumo próprio dos sócios, que, em geral, trabalham diretamente no negócio. Na maior parte dos casos, a remuneração dessas pessoas é de acordo com a produtividade do negócio. A média é de R$ 159,97 mensais.
Há também os trabalhadores não-sócios. Eles atuam em cargos de gerência, consultoria ou assessoria, mas também podem estar ligados à produção dos bens ou serviços. A remuneração desses trabalhadores, em média, é mais alta que a dos sócios: R$ 447,87.
Cerca de 14 mil negócios contam com até 50 participantes. Os motivos mais apontados para a inserção dessas pessoas na economia solidária são uma alternativa ao desemprego e o desejo de obter um rendimento maior em um empreendimento associativo.
Mas o mapa do setor também exibe dados pouco alentadores. Mais de um terço das atividades (35%) está na informalidade. Além disso, quase metade dos empreendimentos declara que o faturamento verificado no ano passado foi insuficiente para pagar as despesas.
Foram 7.171 os que tiveram sobra de recursos depois de acertar todas as contas. Nos últimos 12 meses, os empreendimentos tiveram acesso a R$ 325,6 milhões em crédito. O número pode ser considerado baixo, visto que são poucos os que conseguiram obter financiamento no período (3.159).
"Atividade solidária se profissionalizou"
Paul Singer, secretário nacional, diz que estão surgindo no país cooperativas de profissionais liberais e de nível superior
Economista e um dos fundadores do PT, ele afirma que as taxas de desemprego no governo Lula ainda continuam elevadas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O economista Paul Singer, 75, um dos fundadores do PT, foi o idealizador da Secretaria Nacional de Economia Solidária, que hoje comanda.
Para ele, as taxas de desemprego no país ainda são muito elevadas, e a economia solidária deixou de ser uma "falta de opção". Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
FOLHA - A economia solidária surgiu como uma alternativa ao desemprego?
PAUL SINGER - A origem da economia solidária foi nos anos 80 e 90, com grande crise de desemprego e exclusão social. A partir daí começa a haver também uma opção pela economia solidária nos seus méritos, e não só por falta de opção. Estão surgindo cooperativas de pessoas que se formam em universidades, cooperativas de profissionais liberais, e há as cooperativas que recuperam empresas que estavam falidas ou estavam em crise.
FOLHA - A opção é uma tendência?
SINGER - Eu acredito que sim, sobretudo se o governo do presidente Lula tiver êxito em reduzir o desemprego. Ele já teve algum êxito nisso, mas ainda o desemprego está muito grande.
Mas, se o crescimento da economia se acelerar e se houver redistribuição da renda, como já está havendo, é provável que no final do segundo mandato o desemprego ceda. Nesse caso, a economia solidária será cada vez mais uma opção.
FOLHA - Cerca de um terço dos empreendimentos é informal. Como trazê-los para a formalidade?
SINGER - Já há uma medida que eu espero que tenha esse resultado, que é a lei do Supersimples. A lei reduz muito as exigências burocráticas para registro e fechamento de empreendimentos, reduz a carga tributária, facilita o processo de venda para o governo, favorece a obtenção de crédito e assistência tecnológica.
FOLHA - Quais são as dificuldades para criar um empreendimento solidário?
SINGER - Depende do grau de informação da pessoa, mas existem hoje muitas entidades que estão nos apoiando e que estão prontas para dar toda a assistência e acompanhamento. As incubadoras universitárias de cooperativas populares são um exemplo. Hoje mais de 60 universidades brasileiras têm esses projetos de incubadoras, e a associação que precisa de orientação vai às incubadoras. Além disso, há outras entidades, como ONGs, que fazem o mesmo trabalho.
Prof. Dra. Rita Velloso
Doutora em Filosofia/UFMG
Prof. Adjunto III/PUC Minas
Este blog se destina à divulgação de sítios, textos, conteúdos que dão suporte às disciplinas de Projeto, História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo no curso de Arquitetura e Urbanismo na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em Belo Horizonte.
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